sexta-feira, 1 de maio de 2015

20 SERVIDORES SÃO REFÉNS DE INDIOS DA RESERVA YANOMAMI

Do G1 RR 0 01/05/2015 18h57

Índios mantêm 20 servidores da Sesai reféns na Reserva Yanomami em RR. Piloto que deixou a área diz que índios pedem saída de gestora da Sesai. Gestora do Dsei Yanomami diz ter informado a Polícia Federal sobre o caso.

Emily Costa


Cerca de 150 índios armados com arcos, flechas e facões mantêm os funcionários reféns na região de Surucucus, no interior da Terra Indígena Yanomami, em Roraima (Foto: Arquivo pessoal)

Mais de 150 índios da etnia Yanomami mantêm cerca de 20 funcionários da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) reféns na região de Surucucus, Noroeste de Roraima, na Terra Indígena Yanomami (TIY), desde a manhã desta sexta-feira (1º). Conforme o piloto Liés Carvalho, que conseguiu deixar a região no início desta tarde, os indígenas cobram a exoneração da gestora do Distrito Especial de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y) e de um outro servidor da Sesai.

Por telefone, a gestora Dsei-Y, Maria de Jesus, afirmou ter conhecimento da situação e disse já ter procurado a Polícia Federal para relatar o caso. Segundo ela, os servidores reféns não correm risco de vida.
Quatro aeronaves de pequeno porte foram
apreendidas (Foto: Arquivo pessoal)

O comandante Liés Carvalho disse que os indígenas que mantêm os servidores reféns estão armados com arcos, flechas, facões e estão pintados de preto. Conforme ele, os 20 agentes da Sesai são mantidos dentro do prédio da secretaria em Surucucus. Quatro aeronaves usadas pela Sesai também foram apreendidas pelos índios.

A reportagem do G1 tentou contato com o coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kuana (FPEYY), João Catalano, mas as ligações não foram atendidas.

"Os agentes foram levados ao prédio e os índios dizem que eles ficarão lá até que os servidores sejam exonerados. Eles [reféns] estão muito apreensivos, mas apesar de estarem armados, os índios estão calmos", descreveu.

Conforme o piloto, nesta sexta seria realizada a troca de agentes que atuam na região. Por isso, cinco aeronaves foram ao local para levar 20 funcionários Sesai e trazer para Boa Vista os agentes de saúde da secretaria que estavam na Reserva.

"Pousei o avião por volta das 10h para deixarmos agentes da Sesai e buscar os que estavam trabalhando lá. Desde esse momento, percebi que havia algo diferente, porque tinham muitos índios em volta da pista de pouso", contou.

Após estacionar a aeronave, o piloto contou que 'vários índios o fizeram descer e trancar o avião'. "Eles disseram que ninguém ia mais voar, porque eles estavam apreendendo tudo para 'ganhar força' e conseguir a exoneração dos servidores", disse.

Segundo ele, após descer da aeronave e conversar com os líderes indígenas, os pilotos que haviam levado os aviões à região foram 'liberados' para voltar a Boa Vista. Eles chegaram à capital por volta das 15h.

"Eles deixaram que só os pilotos voltassem, porque acreditaram que isso garantiria que nenhuma aeronave vai tentar decolar da região", disse, acrescentando que os pilotos foram orientados a retornar para a localidade dentro dos próximos dias levando comida e suprimentos.

O piloto relatou ainda que militares do 4º Pelotão Especial de Fronteira estão na região de Surucucus e acompanham o caso.

A reportagem entrou em contato com um cabo do exército que atua na localidade e ele confirmou o número de índios que participam do protesto. Conforme ele, os servidores só serão libertados quando os servidores da Sesai forem exonerados.

O G1 tentou contato por email e telefone com o Minstério da Saúde, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Exército

Por telefone, a assessoria de comunicação do Exército Brasileiro em Roraima, contradisse o número de índios presentes na manifestação. Segundo a instituição, são cerca de 30 Yanomami que mantêm os servidores 'apenas impedidos de deixar a região porque não há pilotos para guiarem as aeronaves'.

"Além disso, os militares que atuam no Pelotão de Fronteira estão dando total assistência aos servidores que estão no local", comunicou.

Entenda o caso


Em 2013, índios Yanomami invadiram o prédio da Sesai em Boa Vista para exigir a saída da também coordenadora do Dsey-Y, Claudete Schuertz. Após cinco dias de ocupação, ela foi exonerada e a atual gestora da pasta, Maria de Jesus do Nascimento, foi empossada no cargo.

Em janeiro deste ano, cerca de 50 indígenas da etnia Yanomami voltaram a ocupar a Sesai e pediram a exoneração de Maria de Jesus. Alguns dias depois, eles deixaram o prédio e a coordenadora permaneceu no cargo.

segunda-feira, 16 de março de 2015

MADEREIROS INVADEM TERRA DE INDIOS E AMEAÇAM POVO AWÁ

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 15/03/2015

Madeireiros invadem terras de índios que vivem isolados na Amazônia. Segundo a ONG inglesa Survival International, defensora de tribos no mundo todo, o povo Awá é o mais ameaçado de extinção do planeta.





Você sabia que o povo mais ameaçado de extinção em todo o mundo vive no Brasil? São índios, alguns deles vivem isolados na Floresta Amazônica e jamais tinham feito contato com o homem branco. Agora, imagine o susto, a sensação de pavor desses índios, quando eles perceberam a presença de madeireiros invadindo o território deles, dando tiros, derrubando árvores. Só restou correr desesperadamente em busca de socorro.

Ihoro conhece todos os sons da floresta. Mas aquele barulho ele nunca tinha escutado antes. Nem nunca tinha visto aquele tipo de pessoa. Homens brancos, invasores, dispostos a destruir e matar. Foi preciso fugir, abandonar a sua terra para sobreviver.

O Fantástico foi ao noroeste do estado do Maranhão e seguiu para uma aldeia da tribo Awá. Pela primeira vez uma equipe de televisão foi autorizada a chegar tão perto de um índio que até alguns dias atrás nunca havia feito contato com a civilização. Ihoro, nome que na língua tupi quer dizer "gavião real", tem cerca de 20 anos.

Uma aparência rude, mas muita doçura no olhar. Roupas ainda causam estranhamento. Ele vivia isolado em um pedaço da Floresta Amazônica, mas acabou encurralado por madeireiros. Há três meses, foi resgatado por um grupo de índios caçadores e levado para uma aldeia.

Cacique Macumã: O Ihoro contou a história assim: ‘atirou tiro de espingarda atrás de mim’.
Fantástico: Ihoro teve medo?
Cacique: Tem medo, medo. Ihoro tem medo.

Namatiá passou pela mesma situação. Há seis anos, teve que deixar a vida nômade e morar em uma aldeia.

“Eu morava com meus três irmãos na floresta. Nós fugimos dos forasteiros para as profundezas da floresta”, conta Namatiá.

Os Awá estão espalhados por quatro terras indígenas: Alto Turiaçu, Awá, Caru e Araribóia. A mais devastada, a Awá, perdeu mais de 35% do território de 2010 a 2013.

“Sem a natureza, sem a mata, nós também acaba”, diz o índio Awá Tiparajá.

Eles têm uma dependência profunda da floresta. Nela caçam, colhem frutos. Sem as árvores, a mata, passam fome. Segundo a ONG inglesa Survival International, defensora de tribos no mundo todo, o povo Awá é o mais ameaçado de extinção do planeta.

“Primeiro porque eles são nômades e os povos nômades são muito vulneráveis porque ninguém realmente sabe o que está acontecendo porque eles estão bem escondidos dentro da floresta. Então é muito fácil derrubar a floresta e até matar eles. Está acontecendo. Também porque eles são muito poucos em número”, diz a historiadora da ONG, Fiona Watson.

Hoje, de acordo com a Fundação Nacional do Índio, a Funai, existem apenas 400 Awás.

“Se a gente considerar que o Brasil é um dos últimos dos países com a presença de povos indígenas isolados, dentro do Brasil o povo Awá-Guajá estaria no grau de alta vulnerabilidade, ou seja, ameaçado realmente de um crime de genocídio, que está sendo perpetrado por essas atividades ilícitas, de exploração de madeira”, destaca Carlos Travassos, coordenador geral de índios isolados da Funai.

Ameaçados e condenados ao desaparecimento, eles gritam por socorro. E um contra-ataque foi montado pelo Ibama e pela Funai. Durante alguns dias, nossa equipe acompanhou uma Operação do Grupo Especial de Fiscalização do Ibama. E a equipe embarcou no helicóptero.

Do alto observa-se os danos, os madeireiros já não abrem grandes clareiras, apenas derrubam as árvores que tem maior valor comercial. Assim, mesmo com as imagens de satélite, nem sempre é possível estimar o tamanho real do desmatamento.

“Há que se endurecer as leis ambientais. Os crimes ambientais dão no máximo quatro anos de prisão, geralmente as pessoas que são condenadas, passam a entregar cestas básicas, a pagar serviços comunitários”, explica o diretor de proteção ambiental do Ibama, Luciano Evaristo de Menezes.

Por uma estrada os madeireiros escoam boa parte das toras cortadas na floresta. Por isso, a equipe de fiscalização decidiu montar um acampamento e passar a noite para tentar interceptar os caminhoneiros. Choveu forte a noite toda. Essa e outras estradas viraram lamaçais. Caminhoneiros não arriscaram passar pelo local, mas outras trilhas revelam marcas recentes de pneus e levam os agentes aos cenários dos crimes. Máquinas, um acampamento inteiro na carroceria de um caminhão. Em outro ponto, o acampamento foi abandonado às pressas.

As toras são transportadas num caminhão caindo aos pedaços. Não tem placa. O veículo, segundo a equipe de fiscalização, está com o chassi adulterado - foi roubado em algum canto do país. E dentro da cabine, a gente vê uma curiosidade: o tanque de combustível feito totalmente no improviso.

Até plantações de maconha foram encontradas em terras indígenas. A estratégia é destruir tudo, inclusive grandes serrarias. No entorno e dentro das terras Awá, o Ibama já fechou 173 delas. Esta já havia sido alvo da fiscalização no ano passado.

“O objetivo é descapitalizar o infrator. Na verdade são criminosos que estão roubando e receptando madeira da terra indígena e da unidade de conservação. Eles sentem no bolso prejuízo”, diz o agente ambiental do Ibama Roberto Cabral.

O dono do negócio, quem realmente lucra com o a extração ilegal, se esconde. Na linha de frente, os agentes encontram apenas pessoas vítimas de exploração e trabalho escravo.

“As populações do entorno, as populações não indígenas são muito carentes, há uma dificuldade de geração de renda dessas populações que acabam se envolvendo também com atividades ilícitas”, destaca Carlos Travassos, coordenador geral de índios isolados da Funai.

“Dessa vez, trabalhei trinta dias de graça. Não me pagaram aqui. Queria me espancar no barraco aqui ainda. Me bater no barraco”, diz um madeireiro.

Fantástico: Tinha muita gente trabalhando com o senhor?
Madeireiro: Tinha mais ou menos umas vinte e cinco pessoas trabalhando aqui.
Fantástico: Cada pessoa cortava, então, quantas árvores?
Madeireiro: Um máximo de 15 árvores, 15, 20 árvores.

Somente nesta frente clandestina, cerca de 500 árvores foram derrubadas por dia.

“Os índios são os primeiros defensores da floresta, quer queira, quer não, os madeireiros temem os índios. Então devemos preservar o índio e preservar a floresta”, diz o diretor de proteção ambiental do Ibama, Luciano Evaristo de Menezes.

"Nós estamos aqui para lutar pela nossa mata, pela nossa floresta, que é isso que nós vamos deixar para os nossos filhos e para os nossos netos", diz a índia.

Não são só os Awá que se sentem ameaçados na região. Os Guajajaras perceberam que precisam se unir para tentar frear o desmatamento na terra indígena. Eles criaram um grupo pequeno, formado por 24 índios. São os chamados guardiões, que vão vigiar e fiscalizar os pontos ilegal de exploração de madeira.

“Eu já fui ameaçado várias vezes, mas isso não vai me intimidar”, afirma o cacique Antonio Guajajara.

Em menor número, os Awá se mostram mais frágeis. “Os brancos mataram minha mulher e meu filho. Eles foram mortos na floresta com uma arma feita de ferro. Eu era pai e um dos meus filhos morreu”, conta um índio.

Mas há uma palavra na língua branca que resume o que eles estão dispostos a fazer: resistir.

“Desaparece toda uma visão de mundo, toda uma história de um povo, seus conhecimentos, mas acho que também desaparece uma parte da riqueza e da diversidade da humanidade. Todos nós perdemos”, destaca a historiadora da ONG, Fiona Watson

Ihoro e a família, que moravam longe da civilização, aprendem agora a viver em grupo, mas sentem as consequências dessa aproximação. A mãe e a tia estão doentes, por isso não pudemos chegar perto delas.

“Essa situação de pós-contato é sempre muito complicada. Elas têm uma saúde muito frágil, falta de imunidade. Várias doenças que pra nós são simples, então, eles contraem uma série de resfriados diretamente. A gente diz que os dois primeiros anos são os dois primeiros anos mais vulneráveis no que diz respeito a questão da saúde”, diz Carlos Travassos, coordenador geral de índios isolados da Funai.

Na aldeia, Ihoro já encontrou um amor. Uma índia mais velha ensina ao rapaz os desafios que terá pela frente. Será que ele pensa em voltar a viver no meio da floresta?

“Acho que ainda é cedo para dizer. A gente tem a expectativa também que ele não venha pra cá de forma permanente, mas que ele possa optar, ter liberdade para optar o caminho que ele assim quiser”, diz Carlos Travassos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

CONFLITO AGRÁRIO EM ERVAL GRANDE NO RS

 

ZH 18 de setembro de 2014 | N° 17926

CARLOS WAGNER


 PASSO FUNDO - Agricultores teriam despejado índios em frente à Funai



Agricultores de Erval Grande, cidade agrícola de 5,2 mil moradores no norte do Estado, teriam retirado, na manhã de ontem, um grupo de índios que ocupava a beira de uma estrada no município e os levado até o prédio da Fundação Nacional de Apoio ao Índio (Funai), em Passo Fundo, dentro de um caminhão.

Em frente ao prédio, os dois grupos teriam entrado em confronto. A situação foi controlada por patrulha do 3º Regimento de Polícia Montada (3º RPMon), que faz a segurança da região.

À tarde, por volta das 15h, teve início uma reunião entre líderes dos índios, dos agricultores, representantes da Funai e oficiais da 3º RPMon na sede da Polícia Federal, com o objetivo de encontrar uma saída pacífica para o problema.

– A situação está mais calma – relatou um oficial do 3º RPMon.

Esse conflito faz parte de uma disputa agrária entre indígenas e agricultores que se arrasta por mais de duas décadas no Rio Grande do Sul.

Atualmente, existem 30 focos de disputa, que envolvem 10 mil índios e mais de mil famílias de agricultores, a maioria, pequenos proprietários.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

CONFLITO NA SELVA


ZERO HORA 05 de setembro de 2014 | N° 17913


Fotos mostram ataque indígena

Exploração ilegal de madeira causou reação violenta de tribos, que se uniram em represália



Fazendeiros amarrados e um caminhão em chamas no meio da selva, no Maranhão, compõem o cenário de um conjunto de imagens revelado ontem pelo fotógrafo Lunaé Parracho, da agência Reuters.

Os flagrantes foram feitos em 7 de agosto, quando membros da tribo dos Caapores (ou Ka’apor, como também são chamados) capturaram e agrediram madeireiros da Terra Indígena Alto Turiaçu, perto de Centro de Guilherme.

Conforme declaração do fotógrafo à Reuters, os índios pediram ajuda ao governo para combater a exploração ilegal de madeira na área, mas cansaram de esperar. Em protesto, teriam decidido agir por conta própria, unindo-se a outras quatro tribos em uma expedição para expulsar os desmatadores.

Acampamentos foram destruídos e fazendeiros foram perseguidos e rendidos. Nas fotografias, alguns aparecem seminus, sob a mira de armas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmou que ações contra os madeireiros ilegais têm sido comuns naquela região e o apoio da polícia já foi solicitado.

Segundo Parracho, os índios pretendem continuar monitorando a exploração ilegal de madeira


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ASPECTOS CULTURAIS GARANTEM ABSOLVIÇÃO DE INDÍGENAS ACUSADOS DE TORTURA

DIÁRIO DA MANHÃ, 28/08/2014

 Redação Passo Fundo


Foto: Arquivo DM



Costumes, dogmas e construções culturais restritas a determinados grupos sociais, costumeiramente, não são analisadas sob a ótica jurídica ou não têm expressão suficientes para embasar decisões em tribunais brasileiros. O juiz da 2ª Vara Criminal do Fórum da Comarca de Passo Fundo, Orlando Faccini Neto, porém, fez uma leitura diferente de um caso de tortura denunciado pelo Ministério Público em 2010. Em sua sentença, o magistrado, que também esta a frente da direção do Fórum local, inocentou três índios caingangues das acusações de tortura contra uma mulher da mesma tribo, expulsa do acampamento indígena situado no município de Mato Castelhano, distante cerca de 20 quilômetros de Passo Fundo.

Na apuração dos fatos levados ao Judiciário, o Ministério Público (MP) denunciou que os três homens acorrentaram a mulher a um tronco de árvore durante cerca de quatro horas e a ameaçaram, fisica e mentalmente. De acordo com as acusações do MP, o cacique da tribo, fixada às margens da BR 285, aplicou o castigo pessoal, de caráter preventivo e cunho considerado intimidatório, com o auxílio dos outros dois índios, por ter considerado ofensiva a posição da mulher, que defendeu o direito de sua filha e genro mudar de acampamento indígena. “[...] o cacique, após discussão com a ofendida, indígena sob seu poder e autoridade, puxou-a para fora de casa, arrastando-a por cerca de 100 metros até um campo, localizado em frente à sua residência, onde acorrentou a vítima em um tronco. A mulher, que estava grávida no momento do fato, ficou por cerca de quatro horas acorrentada, tendo sido agredida pelo irmão e o cunhado do cacique com socos e “apertões”, além de ter sido ameaçada e injuriada pelos réus. Depois disso, ela foi solta e expulsa do acampamento”, relata o texto da sentença, proferida na quinta-feira (21).

O caso chamou a atenção do MP, que ofereceu a denúncia de tortura em 2012, pedindo a condenação dos envolvidos. À época, a Defesa dos acusados alegou que os índios não tiveram a intenção de lesar ou “causar maldades” à mulher e que o ato devia ser visto como uma prática cultural comum aos costumes da tribo, não podendo ser encarado como violência em função da medida de castigo adotada e executada compor o conjunto de regras e leis específicas do acampamento, sendo de conhecimento de todos os índios que ali viviam.

Respeito ao conjunto de regras internas

Respaldados por uma série de normas e deliberações próprias, compiladas no Estatuto dos Índios, as populações indígenas residentes em acampamentos e tribos presentes em todos os Estados brasileiros respeitam ordenamento próprios de sua cultura, distinguindo-se por região de inserção social e origem familiar. Para o magistrado passo-fundense que decidiu por inocentá-los da acusação de tortura, o aspecto da defesa cultural é o que prevaleceu na questão. “A solução para o caso é absolver os réus. As marcas em ambos os braços não podem ser traduzidas como intenso sofrimento físico. E nada veio a demonstrar que a vítima tenha sido submetida a intenso sofrimento mental, o que descaracteriza o crime de tortura descrito na denúncia”, argumentou Faccini Neto.

Ainda conforme o juiz da 2ª Vara Criminal do Fórum da Comarca de Passo Fundo, as medidas tomadas pelos caingangues fazem parte da cultura indígena, como, por exemplo, o ato de amarrar alguém a um tronco por horas a fio como forma de mostrar que foram cometidas infrações às normas internas da tribo. “Fato é que a mulher, grávida, foi amarrada a um tronco de árvore e ali ficou por algumas horas. Não sem motivos, pois a vítima teria 'desacatado' o cacique e as lideranças da tribo”, definiu o magistrado, reiterando que sob o fundamento da defesa cultural, isto é, do argumento de seguir as regras de sua própria cultura, a proteção jurídica que beneficiaria alguns, não alcançaria membros de outra comunidade, de maneira a afrontar-se o princípio da igualdade. “Na espécie, o instrumento que lesou e, de certa forma, restringiu a liberdade da vítima, era o meio ao alcance dos acusados, representantes legítimos daquele grupo indígena, de corrigir o comportamento do membro, para eles, infrator”.

Casos diferentes

A cultura e os costumes de um grupo, contudo, não podem ser todos descaracterizados de punição judicial, como observou o magistrado passo-fundense, apontando que o direcionamento da medida aplicada pelo cacique não infringia os direitos da vítima enquanto mulher, o que difere-se, por exemplo, conforme explicou Neto, da prática de certos grupos culturais que mutilam e violam o clitóris feminino, reduzindo a dignidade do indivíduo. “[...] o que não aconteceu no caso sob julgamento, em que a punição era prevista para a generalidade dos membros da tribo, inclusive em documento que era do conhecimento de todos. Nesta análise, não haveria outra forma de assegurar o caráter de prevenção negativa e de afirmação da vigência das normas internas da tribo, exceto do modo como a medida adotada representou. O castigo, neste caso, não partiu de uma demonstração pura e simples da autoridade do cacique, senão de um processo que se poderia reconhecer como democrático, com a finalidade primeira de reeducar índios problemáticos”, encerrou Orlando Faccini Neto.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Com todo o respeito ao magistrado, nesta linha de argumento, os indígenas que eram canibais podem matar um ser humano e se alimentar dele que ficarão impunes, já que faz parte da cultura deles. Que eu saiba, os indígenas civilizados devem seguir as leis brasileiras. Porém, como convivemos uma justiça onde a cabeça do juiz dita a lei, nada surpreende.

domingo, 24 de agosto de 2014

INDÍGENAS DESARMAM, AGRIDEM E PRENDEM PMS EM IRAI-RS. DOIS ÍNDIOS FORAM BALEADOS

ZERO HORA 24/08/2014 | 00h37

Indígenas são baleados em confronto com BM em Iraí. Confusão teria começado após um grupo de índios ser parado em blitz com licenciamento de veículo vencido

por Felipe Luis da Costa


Dois índios foram baleados durante um confronto com a Brigada Militar (BM), na tarde deste sábado, em Iraí, no norte do Estado. Dois policiais militares foram desarmados e chegaram a ser levados pelos índios da reserva caingangue, conforme a BM.

Os PMs foram liberados e os indígenas só devolveram os armamentos, coletes à prova de balas e uma viatura pertencente ao 37º Batalhão da cidade no começo da noite, depois da garantia de que seria aberto um inquérito para apurar os motivos dos disparos.

O agente da Polícia Civil Pedro Evaldo Wink, responsável pelo caso, diz que foram registradas duas ocorrências pelos policiais militares envolvidos. Segundo as ocorrências, o conflito entre indígenas e PMs começou quando um grupo de indígenas teve seu veículo parado em uma blitz de fiscalização na Avenida Flores da Cunha. Quando avisados que o veículo seria recolhido por estar com o licenciamento vencido, eles teriam reunido um grupo maior que cercou dois policiais, que pediram reforço ao sargento da BM Alfredo Zankoski.

— Cheguei no exato momento da "pauleira". Cerca de 20 índios estavam agredindo os policiais — disse o sargento, que afirmou ter ajudado os dois policiais a fugir do local.

Celso Jacinto, assessor do cacique caingangue Jadir Jacinto, diz que a confusão foi gerada por abuso de poder e abordagem agressiva dos policiais. Ele afirma que o indígena Walter dos Santos, que estava no carro com a filha de oito anos e a mulher, teria levado uma coronhada. Com a reação de Santos, os policiais teriam disparado cinco tiros. O outro indígena baleado seria um adolescente, sobrinho do cacique.

Conforme uma das ocorrências, outro indígena teria pegado a viatura dos policiais e tentado atropelar um deles. Em torno de 20 minutos depois, um grupo de 50 indígenas foi até o Batalhão e desarmou outros dois policiais, que foram levados para a reserva indígena. Após a liberação dos PMs, intermediada por uma agente da Fundação Nacional do Índio (Funai), os indígenas retiveram armamentos, coletes à prova de balas e a viatura até o começo da noite de sábado.

— Não é de hoje que sofremos essas agressões. O cacique não conseguiu conter a revolta do pessoal. Nós só fizemos tudo isso para chamar a atenção das autoridades — afirmou Jacinto.

Walter dos Santos, um dos baleados, foi levado até o hospital de Erechim, onde está internado. O adolescente, que teria levado um tiro no joelho, foi socorrido no hospital Nossa Senhora Auxiliadora, em Iraí, e liberado.

sábado, 2 de agosto de 2014

BRIGA GENERALIZADA EM RESERVA DO RS

RADIO PLANALTO 02/08/2014 | 08:55

Divergências internas resultam em briga generalizada na reserva indígena de Charrua


Índios entraram em conflito na noite de quinta para sexta na reserva de Charrua. Diversas pessoas ficaram feridas e três casas foram queimadas. Um cacique teria prendido pelo menos 10 pessoas, entre elas crianças e adolescentes, na quinta-feira. O estopim ocorreu quando uma adolescente presa, com um filho no braço, teria sido espancada e a criança caiu ao solo, iniciando o conflito. As divergências resultam da atitude de um cacique que não quer realizar eleições para a escolha de nova liderança da tribo que tem 380 índios.

Um grupo de índios acabou acampando em um campo de futebol e outro, temendo represálias, invadiu as terras de um ex-prefeito ao lado da reserva. A reserva de Charrua tem seis mil hectares, ou seja, mais de 15 hectares para cada índio, e mesmo assim por falta de entendimento, há integrantes fora da aldeia.

Ontem, lideranças aguardavam a presença da Funai para organizar uma reunião, mas ninguém compareceu. O que chama a atenção também é que a polícia, tanto militar como federal, não entraram na reserva apesar da briga e do incêndio das casas.